Goiás precisa investir R$ 3,34 bilhões até 2035 para garantir segurança hídrica urbana nos municípios, quando a população atendida deve chegar a 7.762.739. Hoje são 6.583.948. A informação é do Atlas Água de 2020, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA). Os recursos são destinados para intervenções relativas a infraestrutura de produção e distribuição. O total que precisa ser investido em Goiás corresponde a 52,39% de todo o aporte necessário para a Região Centro-Oeste. No estado são R$ 724,7 milhões para produção de água e R$ 2,62 bilhões para a distribuição do recurso.
Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis) de 2019 revelam que o estado tem 96,4% da população urbana com atendimento de rede de água tratada. Dentre os 91% das 246 cidades de Goiás atendidas pela Saneago, o índice sobe para 97,5%. A média nacional é de 92,9%. A universalização do serviço, afirma a concessionária, caminha para ser cumprida “inclusive quanto às exigências do Novo Marco Legal do Saneamento Básico (Lei nº 14.026/2020)”.
Parte do desafio no estado está em manter o abastecimento pleno. Conforme o relatório da ANA, o elevado investimento se justifica porque 35% das localidades foram classificadas com média ou baixa segurança hídrica. Nelas vivem 28% da população. O documento não detalha quais são elas.
Em Goiás, apenas um município apresenta menos de 50% de cobertura (veja quadro). É Faina, no noroeste goiano, onde residem cerca de 6,5 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE. Em nota, o prefeito Roberto Vieira (PDT) afirmou que nos últimos anos os investimentos em infraestrutura foram poucos. Ele disse que a prefeitura está contratando estudos técnicos para direcionar os investimentos. O objetivo é alcançar 100% das residências com o serviço.
Para dar resposta às demandas de Goiás, o relatório da ANA recomenda destacadamente a execução de três obras: Sistema Corumbá IV – 2ª etapa, compartilhado com o Distrito Federal (R$ 249,38 milhões), Sistema Adutor de Águas Lindas – nova captação e adutora (R$ 152,41 milhões) e Sistema Adutor de Anápolis – nova captação e adutora (R$ 131,58 milhões). No estado, o Atlas Água registra no total oito intervenções de infraestrutura preconizadas e 105 estudos de alternativas para mananciais ou sistemas.
As intervenções na infraestrutura visam a resolver problemas que se tornaram recorrentes nos últimos anos. É o caso de Anápolis, cujo principal manancial, o Ribeirão Piancó, opera no limite nos períodos de estiagem. Em 2019, houve racionamento no município.
Em Anápolis, a Saneago inaugurou, em agosto último, uma estação de tratamento de água para complementar o serviço em 150 litros por segundo (l/s). O volume se soma aos 860 l/s já produzidos no Piancó. Também foram instalados poços artesianos, conforme a concessionária. Em dois anos, o montante investido foi de R$ 14,2 milhões. O novo sistema de Anápolis, citado no atlas, será abastecido pelo Córrego Capivari.
Em nota, a Saneago afirmou que o sistema de Corumbá IV está praticamente concluído e atualmente passa por testes operacionais. Sobre Águas Lindas, a companhia afirmou que o serviço é universalizado, com atendimento para 214 mil habitantes.
Atendido pela Agência Municipal de Saneamento (Sanesc), Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia, é uma das localidades que têm deixado parte da população sem água durante a estiagem, sobretudo a que reside nos bairros mais altos. O relatório da ANA cita dois dos oito projetos englobando uma reforma da captação atual, adutora, estação de tratamento e reservatórios. O valor é de R$ 28,16 milhões.
Questionada pelo jornal O Popular sobre os projetos, a prefeitura de Senador Canedo, responsável pela Sanesc, afirmou nos primeiros nove meses de gestão investiu cerca de R$ 12 milhões no abastecimento público. Uma das ações é a ampliação da capacidade, em 20 vezes, do Reservatório Bonsucesso. O sistema é um dos citados no relatório da ANA. O planejamento, diz a prefeitura, é aplicar R$ 150 milhões até o fim do atual mandato.
Aparecem ainda no relatório da ANA projetos para Trindade (R$ 6,8 milhões), Rio Verde (R$ 17,7 milhões) e Catalão (R$ 46,5 milhões).

Mananciais
Ao todo, no estado de Goiás, 91 municípios (37% do total), que abrigam cerca de 1,1 milhão de habitantes, apresentam mananciais vulneráveis, conforme o atlas. Do total, 56 deles apresentam baixa vulnerabilidade, 34, média vulnerabilidade e há um município classificado como de alta vulnerabilidade. Por outro lado, há 62 cidades que apresentam manancial não vulnerável e sistema produtor satisfatório.
A RMG aparece no Atlas Águas principalmente pelos mananciais superficiais dos quais se serve: Rio Meia Ponte e o Ribeirão João Leite. O recurso hídrico captado neles abastece os municípios de Aparecida de Goiânia, Goiânia e Trindade.
A capital enfrentou em 2019 um dos períodos mais duros de estiagem. Em 2020, monitoramento e controles implantados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, sobretudo no Meia Ponte, permitiram a passagem pela seca sem grandes problemas. No entanto, neste ano, diante de um cenário sem precedentes, o Meia Ponte registrou níveis críticos por meses e o Plano de Racionamento esteve prestes a ser colocado em prática. As chuvas chegaram a tempo de aliviar a escassez hídrica.

Brasil precisa aplicar R$ 110 bi
O Atlas Águas aponta para o Brasil a necessidade de investimento total de R$ 110 bilhões até 2035. O direcionamento do valor é para infraestrutura de produção e distribuição de água, reposição de ativos dessas infraestruturas e controle de perdas do recurso.
Somadas as necessidades das regiões Sudeste e Nordeste, o total equivale a 76% dos investimentos. Nas duas regiões estão os maiores contingentes populacionais.
A quantidade de pessoas que vivem em cidades classificadas com abastecimento de água como segurança hídrica média é de 77,3 milhões. Há 50,8 milhões que vivem em 785 cidades com segurança hídrica baixa ou mínima; 50,2 milhões em 2.143 sedes urbanas com alta segurança hídrica; e 7 milhões em 667 cidades com segurança hídrica máxima.

 

Fonte: O Popular